
Eu tava no último ano de faculdade de publicidade, quando decidi participar mais uma vez da Semana Internacional de Criação Publicitária. Eu queria mesmo era assistir uma palestra do Nizan Guanaes, porém, naquele ano haveria Washington Olivetto e eu resolvi que seria muito interessante ir.
Juntei dinheiro para o ingresso. Depois disso veio a parte mais difícil, conseguir comprar pela desorganizada Ticketmaster (a mesma que me enlouqueceu na época do show do Pearl Jam). Depois de muita canseira, comprei pra mim e pra uma amiga.
Passaram alguns dias e finalmente chegou a hora de assistir a tão esperada palestra. Tinha marcado com minha amiga às 14h. Antes de sair, liguei em seu celular pra confirmar. A menina disse que não ia mais. Estava mal, vomitando tripas e coração. Pensei na hora: que chato, vou ter que ir sozinha.
Pra ajudar começou a chover. Às 15h, com uma hora de atraso, peguei o ônibus na rodoviária. Daqui até lá são, no máximo, 40 minutinhos de viagem, mas a chuva apertou e começou a chover granizo. A Marginal parou. O menino que ocupava a poltrona da frente dormiu com a janela aberta: era granizo direto na minha cara. Eu pensava: gordinho safado não vai acordar com o frio e as pedrinhas batendo em você? E nada do garoto se mexer. Tentei acordá-lo com um cutucão tímido, afinal eu não o conhecia. Nada. Desisti.
Fui tomando pedradas de gelo até o terminal. Olhava as ruas e via tudo coberto por água marrom. O trânsito parado. A chuva aumentando e a hora passando. A palestra começaria às 17h, e eu ainda estava dentro do ônibus.
Eu já imaginava tudo alagado, parado para todo o sempre e o helicóptero da Globo filmando ao vivo o congestionamento em meio à enchente, e eu acenando da janelinha do ônibus pra minha mãe que deveria estar assistindo ao jornal.
Finalmente chegou ao terminal. Desabituada a pegar metrô, andei por algum tempo como barata tonta. Foi quando lembrei que eu poderia pedir informações. Trajeto assimilado, peguei o metrô e me dirigi à Paulista. Desci e a chuva continuava. O local era próximo, mas a pé levaria de 20 a 30 minutos. Peguei um táxi, já era quase 19h00. Cheguei. Tudo vazio.
Entrei e perguntei ao segurança sobre a palestra. Ele disse que já fazia mais de uma hora e meia que havia começado e que já devia estar acabando. Quase tive um ataque. Perguntei se eu poderia entrar do mesmo jeito. Ele disse que sim desde que eu tivesse o ingresso.
Corri, corri, entreguei o ingresso, entrei! Palestra pela metade, tudo escuro, sem lugar pra sentar (que ótimo). Como vendem ingressos se não há lugares disponíveis? Sacanagem, né? Sentei no degrau ao lado de duas meninas da organização. Minutos depois elas estavam batendo papo e minha vontade era falar um monte pra cada uma. Não contente, uma delas começou a falar ao celular. Merecia ou não uma voadora? Duas sem educação. Pra ajudar, o áudio do lugar era terrível, tão terrível que o palestrante parou e pediu que a equipe técnica desse um jeito naquilo. Uns 10 minutos depois, pra surpresa de todos, nada tinha melhorado. Lamentável. Minha vontade era contar toda minha história: que juntei grana e pastei pra comprar pela Ticketmaster, que minha amiga me deixou na mão, que vim tomando pedras de granizo na viagem, que vi a água subir, o trânsito parar... Peguei táxi, ouvi que a palestra estava no final, não encontrei lugar pra sentar, surpreendi as moças da organização batendo papo na maior descontração e, pra ajudar, o problema do áudio não havia sido resolvido. Como isso? Eu não paguei pouco, não! Levei barrinha de cereal pra não gastar com alimentação na Paulista, que é tudo caro, pra ter que ficar adivinhando o que o Washington Olivetto falava? Ninguém merece!
Eu tava revoltada. Pensava: que eu to fazendo aqui? E antes das 21h, a palestra acabou. Tirei algumas fotos do celular, pois nem máquina eu levei (com toda aquela correria), e nada adiantou, pois um dia meu celular resolveu se aposentar sem aviso prévio e, infelizmente, eu não tive o cuidado de descarregar as fotos. Aliás, eu uso celular pra telefonar, não pra fotografar, dirigir, cozinhar ou passar roupa. Confesso que às vezes jogo alguma coisa ou ouço uma musiquinha, mas é algo bem eventual.
Quando saí do evento, todos estavam de carro ou tinham amigos e parentes esperando, menos eu, que precisei comprar um cartão telefônico, ligar pra um táxi pra poder voltar pra Paulista. Eu não ia a pé, sozinha no escuro. Peguei o táxi, peguei o metrô, voltei pro terminal, comprei passagem, peguei o ônibus e enfrentei tudo de novo. Meu ônibus era o último, por isso foi direto pra garagem, então ainda tive que ligar pedindo que me buscassem.
No ano seguinte, a Semana de Criação contou com a presença de Nizan Guanaes, mas como a organização havia relaxado daquela vez, resolvi ficar em casa e economizar meu dinheiro. Isso sem considerar o trauma do trajeto do ano anterior. rs