
Minha mãe faz aulas de pintura numa escola de artes próxima à casa dela. Um dia ela ligou no meu celular, pedindo que eu fosse até a escola retirar um dos quadros que havia ficado secando, pois ela daria de presente pra minha irmã.
Eu nunca tinha ido lá, mas sabia que ficava numa rua conhecida do bairro que meus pais moram. Contando com a informação que tinha uma placa indicando as aulas de pintura e sabendo o nome da professora, fui rapidamente pra lá.
Chegando à rua que, por sinal, é bem grande, fui olhando pra procurar a tal placa. Andei quase a rua toda até encontrar uma casa colorida com a placa que indicava as aulas. Parei o carro na frente e desci. Uma moça veio pra me atender. Expliquei que ia retirar um quadro que tinha ficado secando. Ela perguntou o nome da minha mãe (que havia pintado o quadro), o nome da professora e pediu que eu aguardasse.
Uns dez minutos depois, a moça volta de mãos abanando, dizendo que não encontrou nada. Mais do que depressa liguei pra minha mãe, contando a situação. Ela disse que não era possível e pediu pra que procurassem novamente. Repassei a mensagem e, mais uma vez, nada. Voltei a ligar. Minha mãe falou que então ligaria direto pra professora pra perguntar em que lugar ela tinha deixado o quadro. A moça da escola resolveu ligar também.
Nenhuma das duas conseguiu contato, o celular da professora estava desligado.
Diante da situação e da minha pressa, a atendente da escola resolve me levar na sala onde os quadros ficam secando, pra eu mesma encontrá-lo. Acontece que eu não sabia como era o tal quadro. Liguei mais uma vez pra minha mãe e ela disse que eram pinturas de flores “copos-de-leite” numa cesta. Procurei, procurei e nada.
A moça, que já não sabia mais o que fazer, disse que iria procurar em todas as salas, argumentando que podiam ter trocado de lugar pelo fato da tela já estar seca e pronta pra ser retirada. Eu fiquei lá na recepção esperando, esperando e esperando.
Um tempão depois, a moça volta dizendo que havia encontrado o quadro na primeira sala (onde as pinturas ficam pra secar). Pensei: caramba, como não vimos? Ela pega uma tela e me entrega, comentando pra eu recomendar à minha mãe que não se esqueça de assinar, agora que já está seca.
Peguei a tela, olhei bem aquele desenho, as cores e os detalhes e pensei: isso até pode ser uma pintura de “copo-de-leite”, mas minha mãe não teria o mal gosto de usar essas cores que não combinam. Entreguei de volta e disse que não era aquele quadro.
A moça devia achar que eu só podia estar de sacanagem. Com cara de desesperada, ela discordou na hora e argumentou que era aquele quadro sim, pois era o único com aquele tema.
Mas eu não acreditava que minha mãe tinha pintado aquele quadro e perdido o senso do bom gosto. O problema é que eu não ia dizer isso pra funcionária da escola. Então recusei novamente, mas a moça não parava de insistir e já ia carregando o quadro em direção à saída, pedindo pra eu abrir o carro, perguntando se queria que colocasse no banco ou porta-malas, que ela mesma iria acomodá-lo.
Mas, antes que enfiasse o quadro à força no carro, eu disse que iria buscar a minha mãe, pra que ela mesma retirasse. Mas a moça continuou insistindo pra eu levar. A essa altura, algo me dizia que, não sei como, eu estava no lugar errado.
Foi aí que resolvi ligar pra minha mãe. Expliquei como era a pintura do quadro que a moça tava quase me obrigando a levar, falei das cores, e que a tal cesta desenhada, estava mais pra um vaso de vidro. Ela disse que não era o quadro dela, que as cores eram em tons diferentes, que a cesta era nitidamente uma cesta e não um vidro. E que a única coisa parecida que eu havia citado do tal quadro é que o desenho das flores era “copo-de-leite”, e apenas isso. Obviamente que ela ficou desesperada do outro lado da linha por ainda não terem encontrado o quadro dela, mas foi mais um motivo pra eu manter meus argumentos de que não levaria a tela. E ainda assim a atendente continuou insistindo.
Agradeci a moça, entrei no carro e fui embora. Chegando à casa da minha mãe, expliquei todo o acontecido e ela ligou novamente pra professora, que disse que havia acabado de chegar na escola. Minha mãe contou toda a história e ela disse que isso não seria possível, pois ela estava na frente do quadro e aquele era o único com o desenho de “copo-de-leite”.
Minha mãe deduziu o que já tinha passado por minha cabeça, que por mais incrível que pareça, eu tinha ido ao lugar errado. Apesar da rua, da placa de indicação, do nome da professora (era o mesmo também), do celular desligado e o tema do quadro igual, havia duas escolas de pintura ali, e as duas ficavam na mesma calçada. E eu fui justamente na errada.
Depois que tudo foi esclarecido, finalmente fui ao lugar certo e peguei o quadro certo que, diga-se de passagem, era muito mais bonito.
A gente riu muito dessa história. E ainda bem que eu não quis levar o outro quadro, apesar da insistência da funcionária da outra escola. Óbvio que eu devolveria, mas isso poderia ter dado muita dor de cabeça pra ela, se os chefes ficassem sabendo que havia insistido tanto pra que eu levasse o quadro que nem era meu. Tá certo que não estávamos sabendo desse detalhe, mas melhor ter certeza antes de sair por aí entregando quadros. rsrs
No final deu tudo certo e eu prometi que não passaria mais na frente daquela outra escola por um bom tempo. Se fosse hoje, eu até ligaria lá e explicaria o mal entendido de forma descontraída, afinal eram muitas coincidências. Mas na época, achei tão sem noção, que pensei que se a atendente de lá me visse por ali, ia chamar o hospício pra me levar. rsrs
Depois de toda a confusão, voltei outro dia na escola que minha mãe freqüenta, mas dessa vez, no horário de aula. Tava passando e aproveitei pra fazer uma surpresa. Entrei, mas confesso que não vou voltar lá por um bom tempo também, pois em apenas alguns minutos que fiquei ali, eu consegui esbarrar e derrubar o cavalete com a tela e todas as tintas e pincéis que ela estava usando. rsrs Não é nada contra arte, pelo contrário, sempre gostei. Só acho que eu era meio distraída naquela época. rsrs
Um comentário:
Eu aqui lendo e imaginando a sua cara olhando pro quadro de cores sem noção. Consigo até imaginar como deveria ser o tal quadro, e o porquê que a funcionária queria se livrar dele kkk!
Ah! Você deveria colocar a foto do quadro da sua mãe pra ilustrar a crônica. Iria ficar massa ;)
To num rascunho desde ontem... mas não tá dando muito certo hunf! Assim que sair te aviso!
Obrigada Ma!
Beijo no coração!
Shar.
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